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17 de nov. de 2010

Mais criticas brasileiras de Relíquias da Morte - Parte 1


G1
ϟ "Após ouvir Ron comentar que passou a noite em um pub e assistir a uma cena – de alucinação – em que Harry e Hermione se beijam nus, o sétimo filme com os três aprendizes de bruxos de J.K. Rowling não deixa dúvidas: de infantil, Harry Potter não tem mais nada. A primeira parte cinematográfica do último livro da saga, “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, estreia nesta sexta-feira (19) no Brasil. Trata-se do longa mais adulto e sombrio até agora e, de todos, também pode ser considerado como o mais “difícil”. “Harry Potter e as Relíquias da Morte” tem mais de duas horas de duração e emenda com o final do antecessor, “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”, que termina com a morte de Alvo Dumbledore, o que culmina na guerra entre Harry (Daniel Radcliffe), o escolhido, e Voldemort (Ralph Fiennes), o Lorde das Trevas, que ao lado dos Comensais da Morte tomará controle do ministério de magia e da própria escola de Hogwarts. Porém, antes da batalha final, Harry precisa destruir a imortalidade de Voldemort com a captura das horcruxes, uma lista de objetos em que ele depositou sua alma com o passar dos anos. Durante essa busca, sempre escorado por Ron (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson), ele conhece um esquecido conto sobre as “relíquias da morte”, três poderosos objetos do mundo dos mortos: a capa da invisibilidade, a pedra da ressureição e a varinha de Sabugueiro – essa última almejada por Voldemort para matar Harry. Trata-se da boa e velha dialética entre e o bem e o mal, mas com os ricos detalhes da história criada por Rowling, cujos filmes anteriores arrecadaram US$ 5,4 bilhões em todo o mundo. Comparar aliás “Relíquias da Morte” com seus antecessores é ver a clara evolução que a série ganhou desde 1999. A trama, assim como os personagens, amadureceu e isso é refletido dentro do filme, não apenas superior aos outros esteticamente, mas também de roteiro e atuações. Nunca o trio de amigos esteve tão confortável em seus papéis e Radcliffe chega a ser engolido em alguns momentos por Emma e Grint, cujo romance velado rende momentos divertidíssimos. Também é de se elogiar os efeitos especiais e as cenas de ação, principalmente a presente nos elétricos 15 minutos iniciais do filme. Para despistar os comensais, que estão atrás de Harry, vários de seus aliados tomam a poção mágica polissuco e se transformam em clones do bruxinho. As cópias sobem em suas vassouras, enquanto o verdadeiro divide uma moto modelo sidecar com Hagrid (Robbie Coltrane). A perseguição que começa no céu e depois termina em uma via expressa é alucinante – é praticamente um “’Matrix’ juvenil”. Uma pena que toda essa adrenalina visual dure poucos minutos. O que impera depois são momentos bucólicos com o trio principal, com cenas sempre de belíssima fotografia e que ficam muito tempo presas a um certo assunto sem desenvolvê-lo rapidamente. Os fãs mais fervorosos vão elogiar a calmaria proposta pelo diretor David Yates e dizer que a escolha condiz com o clima do último livro, pois a sensação é que nada dele vai ficar de fora dos dois filmes. Já quem conhece o universo dos bruxos e trouxas apenas pelo cinema irá achar essa nova adaptação tediosa e que a escolha por dividi-la em duas partes não passa de mais um truque mercadológico para lucrar com o bilionário universo de J.K. Rowling."

Revista Época
ϟ "Quando Harry Potter e a pedra filosofal foi lançado nos cinemas em 2001, a adaptação extremamente ingênua e infantilizada da série escrita pela inglesa J.K. Rowling decepcionou muitos fãs. Nos filmes seguintes, apesar da considerável melhora da parte técnica das produções e do amadurecimento dos atores principais, a sensação de que os livros eram muito superiores aos filmes permanecia. A mutilação de trechos vitais da história e a fidelidade questionável à trama do bruxinho que sobreviveu a uma maldição da morte eram algumas das reclamações mais recorrentes. Agora, com Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 1, o cinema se redimiu com os fãs da obra de Rowling. O novo filme, dirigido por David Yates, é uma homenagem àqueles que sempre esperavam ver nas telonas o espírito da história da autora. Yates preserva a inventividade do texto de Rowling e consegue captar os valores e dilemas de uma aventura marcada por altruísmo, fé, autossacrifício, coragem e amizade. Relíquias – Parte 1 é uma produção para convertidos, ou seja, é dirigida a quem conhece Harry Potter e seus amigos. Ele promove um encontro entre os personagens e seus admiradores nas salas de cinema. Não há grandes surpresas – as principais são bem-vindas –, muito menos a sensação de que algo está fora de lugar. O filme consegue dosar, na medida certa, ação, drama, romance, comédia e suspense. O ritmo veloz de algumas passagens é intercalado pela calma de outras, numa operação quase que matemática. A magnitude dos desafios que Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) têm pela frente é sentida logo no início do filme. Na primeira sequência, vemos Rufo Scrimgeour (Bill Vighy), ministro da Magia, anunciando tempos sombrios em virtude da ascensão de Voldemort (Ralph Fiennes) – a cena faz lembrar filmes como Independence day, quando o presidente dos Estados Unidos anuncia em rede nacional a catástrofe que se aproxima. Em seguida, intercalam-se imagens de Harry, Rony e Hermione se “despedindo” de seus lares. A decisão já está tomada. Para destruir as Horcruxes, objetos que abrigam parte da alma do Lorde das Trevas, e assim aniquilá-lo, precisam abrir mão do convívio daqueles que mais amam. Devem lutar pelo bem maior. Harry, Rony e Hermione saem então pelo mundo à procura das Horcruxes. Sem a proteção de Dumbledore (Michael Gambon) e caçados por Voldemort, eles precisam enfrentar uma jornada onde seu maior inimigo é o medo de falhar. Nesse contexto, a amizade dos três é colocada à prova e uma confusão de sentimentos ganha destaque – embora tenham poderes mágicos, eles são tão humanos quanto nós. A profundidade do enredo e os conflitos dessa relação geram as cenas mais engraçadas e dramáticas do filme. Emma e Grint brilham. Eles estão maduros em cena, com atuações acima da média. Radcliffe, apesar de estar bem em seu papel, fica em segundo plano em algumas situações. Chega a parecer apagado. No quesito ação, quando a adrenalina entra em cena, Relíquias – Parte 1 não deixa a desejar. A perseguição promovida pelos Comensais da Morte à Harry Potter nas ruas de Londres faz lembrar filmes do 007. E a invasão ao Ministério da Magia e a luta entre Harry e Nagini, a cobra de Voldemort, são de tirar o fôlego. Que bom que os bruxinhos podem aparatar! Por causa do feitiço que os permite desaparecer de um local e aparecer em outro, conseguem escapar da morte várias vezes. É nessa hora que o poder de convencimento dos efeitos visuais aparece. Sem dúvida, o filme é impecável nesse sentido. O grau de realidade atingido supera o das seis produções anteriores. Aliás, é graças a um excelente recurso gráfico que a história das relíquias da morte é introduzida no filme. Enquanto Harry, Rony e Hermione se veem às voltas com a procura das Horcruxes, descobrem que Voldemort está tentando obter um objeto mágico capaz de torná-lo um bruxo invencível – uma das relíquias. A explicação sobre elas é a passagem mais didática da trama, e talvez a única que ajude aquele que não é versado em Harry Potter a entendê-la. Relíquias – Parte 1 também não é uma produção para crianças. Yates consegue completar a transição dos bruxinhos do mundo infantil para o mundo adulto, que iniciou em A ordem da fênix, sem dificuldades. Não há pudores nas cenas com tortura, mortes, sangue e nudez. Ao final do filme, fica a sensação de que Yates foi coerente com a mensagem de Rowling. Ele mantém o caráter episódico da história e faz um filme fiel ao livro. O diretor e seu roteirista, Steve Kloves, não saem muito do trilho, justamente para não desagradar àqueles que esperam do último longa de Harry Potter uma adaptação que faça justiça à grandeza da história. Obviamente, produções cinematográficas devem buscar dar a um texto literário uma roupagem própria. Devem transformar literatura em cinema. Nessa passagem, porém, precisam respeitar a essência da obra original. Em Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 1, isso foi alcançado. É pouco provável que não ocorra o mesmo no derradeiro episódio que estreia no ano que vem. Se isso realmente acontecer, fãs como eu ficarão contentes."

Cinema com Rapadura
ϟ “Harry Potter e as Relíquias da Morte” é um excelente filme de guerra. Isso mesmo. Filme de guerra. Inúmeras serão as críticas e artigos que avisarão que este é o longa mais sombrio da série. Os jornalistas não estão enganados, porém não podiam ser mais óbvios. O adjetivo “sombrio” é usado para descrever a série desde “O Prisioneiro de Azkaban”. À medida que Harry foi crescendo, os perigos e as perdas que enfrentou também foram se tornando maiores. Voldemort, o vilão eterno, ganhou força e, nesse sétimo capítulo, se tornou um mal mais do que ameaçador. Claro, os filmes da saga foram se tornando cada vez mais sombrios. Nada, entretanto, se compara a esse. Nessa aventura, Harry, Ron e Hermione se tornam heróis plenos, responsáveis não apenas por salvar a escola de magia e bruxaria de Hogwarts, mas por salvar o mundo. O grande mérito, não apenas de J.K. Rowling, que construiu a história até esse ponto, mas também de todos os cineastas responsáveis por levar os livros à tela, é fazer com que os espectadores acompanhem os sete anos da vida desses pequenos bruxos. Vimos Harry sofrer vivendo com os tios, descobrir a magia dentro de si, fazer amigos, aprender feitiços, se apaixonar, perder entes queridos… Foram sete episódios com muita história que prepararam leitores e audiência para o grande final. A apresentação dos personagens e o desenrolar de suas vidas é essencial para emocionar nessa primeira parte do encerramento da série. Em seu último ano em Hogwarts, Harry decide não voltar à escola, mas partir para encontrar as sete horcruxes, pedaços de alma de Voldemort. É sua função encontrar todos os objetos que ainda faltam (quatro) e destruí-los. Só assim o lorde das trevas será derrotado. Claro que Harry não vai sozinho. Ron e Hermione são parte fundamental da aventura. O cenário para a jornada do trio não poderia ser pior. Nenhum dos três tem ideia de por onde começar e, enquanto isso, família e amigos correm riscos. As primeiras cenas desse longa metragem mostram Hermione apagando a memória dos pais. Para garantir que eles sobreviverão à guerra, a feiticeira apaga seu rosto em cada uma das fotos de sua casa. Emma Watson faz a cena brilhantemente. Se antes a atriz abusava das caretas, nesse filme ela está fantástica. Sua atuação é sutil e, nos pequenos gestos no decorrer do filme, ela demonstra o pesar de quem abandonou a família e não sabe ao certo se terá um futuro com Ron. O romance entre os dois, aliás, é algo que finalmente transparece. Nos filmes anteriores, Harry, por ser o heroi da saga, sempre ganhava a atenção de Hermione. Aqui é visível o interesse dela em Ron, assim como o ciúme dele por Harry, um mérito de Rupert Grint. Todos os três astros de “Harry Potter e as Relíquias da Morte” amadureceram. É impressionante vê-los carregando toda essa dor ao longo do filme. Uma dor que, com certeza, foi acumulada após cada uma das perdas narradas no decorrer da aventura. A grande atuação dos três, entretanto, ganha ainda mais peso com o elenco de apoio. Além dos já conhecidos personagens, que voltam para proporcionar alívio cômico e dar ainda mais vida à realidade mágica, conhecemos outras figuras, como Mundungus Fletcher. Se o mundo mágico tivesse jogo do bicho, Mundungus seria bicheiro. As correntes de ouro, a careca mal cuidada, a vaidade cafona. O personagem transparece a charlatanice até no jeito de falar. Xenófilo Lovegood, pai de Luna, é outro achado. Tão perdido quanto a filha, o personagem, interpretado muito bem por Rhys Ifans, mistura a comédia e o drama em uma única cena. É irresistível assistir à construção da cena e do personagem. Há tantos momentos fantásticos de atuação que é difícil comentar cada um deles. Jason Isaacs como Lúcio Malfoy, James e Oliver Phelps como os irmãos gêmeos de Ron e Julie Walters como Molly Weasley são alguns dos nomes que com certeza arrancarão soluços. Se não nessa primeira parte de “Relíquias da Morte”, com certeza na segunda. Uma decepção, entretanto, é a atuação de Helena Bonham Carter como Bellatrix Lestrange. Se a atriz já estava insuportável nos filmes anteriores, agora ela destoa de toda calma e sutileza do resto do elenco. Ao dividir a cena com Emma Watson, por exemplo, que demonstra uma Hermione madura e sábia, a atriz parece uma criança. Não há nada ali de natural. Ela é caricata, exagerada e, francamente, patética. Os dramas e interações entre os personagens são tão bem construídos que não dá para esquecer por um minuto o que aqueles momentos significam. Há tensão ali. A tensão de uma guerra iminente. As cenas de ação fazem jus à atmosfera construída. O texto, convenhamos, não era lá dos mais ricos nesse aspecto. No livro, Harry, Ron e Hermione ficam mais tempo acampados e decidindo o que fazer do que com a mão na massa de fato. A falta de ação na história fez com que os fãs ganhassem ainda mais com a divisão da trama em dois filmes. Essa é, com toda a certeza, a mais fiel das adaptações. Com mais tempo, roteirista e diretor puderam trabalhar em cada um dos detalhes da trama. O diretor David Yates fez um trabalho fantástico. Ele foi responsável pelo amadurecimento não apenas dos atores, mas também da trama. Compare o primeiro filme da série, dirigido por Cris Columbus, e esse último. São completamente diferentes. Uma obra que vai da ingenuidade ao pesar. Pesar combina mais com a história triste de Harry Potter. Desde que assumiu a saga, Yates tem conduzido o drama com qualidade. A cada filme o diretor colocava Harry Potter um passo a frente para alcançar os grandes épicos. A prova do desafio enfrentado por Yates foi dividir a última parte da saga em dois. O diretor conseguiu incluir, no ponto de corte, drama e ação. O final dessa primeira parte não é nada brusco. Faz sentido e nos deixa com vontade de mais. Não tenho dúvidas de que “Harry Potter e as Relíquias da Morte”, partes 1 e 2, estarão entre os filmes mais marcantes da história do cinema, seja pela contribuição de Harry Potter na formação da cultura pop, pela qualidade dramática do longa metragem ou pelas excitantes cenas de ação. Assistimos ao desenrolar dessa guerra, que ainda não terminou e que, com certeza, renderá momentos ainda mais marcantes em sua segunda parte.

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